quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A dialética segundo Bukharin*

     Para Bukharin, o ponto de vista dialético (ou dinâmica) mostra que todas as coisas, materiais e sociais, estão em movimento, e que o movimento se origina do conflito ou da contradição interna de um dado sistema. É também verdade que qualquer sistema, seja material, seja social, tende a um estado de equilíbrio (análogo ao da adaptação na biologia):
     “Em outras palavras, o mundo consiste de forças que atuam de várias maneiras e se opõem umas às outras. Só em casos excepcionais tais forças se mantém em equilíbrio durante certo tempo. Temos então um estado de ‘repouso’, isto é, o ‘conflito’ não esta aparente. Mas basta que se altere uma só destas forças para que logo se revelem as ‘contradições internas’ e rompa-se o equilíbrio. E caso venha a se estabelecer um novo equilíbrio, será em novas bases, ou seja, numa nova combinação de forças, etc. Logo, o ‘conflito’, a ‘contradição’, isto é, o antagonismo de forças que atuam em diversas direções são os determinantes do movimento do sistema.
     Transferindo a origem do movimento – do “alto desenvolvimento” para o conflito de forças – Bukharin acreditava ter depurado da célebre tríade hegeliana (tese-antítese-síntese) seus elementos idealistas. Em substituição, propunha a fórmula de equilíbrio original-rompimento de equilíbrio-restabelecimento do equilíbrio em novas bases.
      Em todo o sistema, prossegue Bukharin, há dois estados de equilíbrio: o interno e o externo. O primeiro concerne à relação entre os diversos componentes do sistema; o segundo, ao sistema como um todo em sua relação com o meio. Jamais existe um “equilíbrio absoluto e imutável”; há sempre “fluxos” – o equilíbrio dinâmico, ou em movimento. O ponto básico da teoria de Bukharin é a relação entre o equilíbrio interno e o externo:
      “(...) A estrutura interna do sistema (...) tem de se alterar em função da relação entre o sistema e seu meio. Esta relação é o fator decisivo (...) o equilíbrio (estrutura) interno é uma quantidade que depende do equilíbrio externo (é ‘função’ deste equilíbrio externo).”
     Aplicada à sociedade, a teoria de Bukharin pode ser entendida assim: uma sociedade supõe certo equilíbrio entre seus três elementos sociais mais importantes – coisas, pessoas e ideias. É este o equilíbrio interno. Mas “é impossível imaginar uma sociedade sem o meio”, ou seja, a natureza. A sociedade adapta-se à natureza, esforça-se para equilibrar-se em relação a ela, e dela retira energia mediante o processo de produção social. No processo de adaptação, a sociedade cria “um sistema artificial de órgãos”, que Bukharin denomina tecnologia e que constitui “um indicador material preciso da relação entre a sociedade e a natureza”. Identificando tecnologia social com forças produtivas (“as combinações dos instrumentos de trabalho”) e considerando a estrutura interna função do equilíbrio externo, Bukharin pode – apesar de sua análise pluralista do desenvolvimento social – preservar a causalidade monista do determinismo econômico. Ou em suas próprias palavras:
     “(...) As forças produtivas determinam o desenvolvimento social porque expressam a inter-relação da sociedade (...) e seu meio. (...) E a inter-relação do meio com o sistema é a quantidade que determina, em última análise, o movimento de qualquer sistema”.
     Neste modelo teórico esta contido o materialismo histórico de Bukharin, sistematizando o desenvolvimento social. O equilíbrio social é constantemente rompido e tende a restaurar-se de duas maneiras: quer pela “adaptação gradual dos vários elementos no todo social (evolução)”, quer por “convulsões violentas (revolução)”. Enquanto o contexto do equilíbrio social – basicamente as relações de produção materializadas nas classes que participam diretamente da produção – for suficientemente amplo e duradouro, tem-se a evolução. Assim se deu o progresso do capitalismo ao longo de várias fases históricas. Mas, quando as forças produtivas chegam ao conflito com “o invólucro fundamental destas forças, isto é, as relações de propriedade”, então ocorre a revolução. O “invólucro se rompe”. Cria-se um novo equilíbrio social; “isto é, um contexto novo e duradouro de relações de produção (...) capaz de atuar como forma evolucionária das forças produtivas...”.”

*: Extraído do blog Lista de Livros, Bukharin: uma biografia política (1888-1938) (Parte I), de Stephen Cohen.

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