segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Os mantras econômicos da mídia - por J. Carlos de Assis* (Jornal GGN / Blog do Nassif)

     O que a mídia nos diz e o que nós nos recusamos a saber

     Primeiro eles vem e nos dizem que é preciso ter responsabilidade fiscal, e nós concordamos, mesmo que não expliquem direito o que significa isso.

     Depois dizem que é preciso fazer superávit fiscal mesmo em recessão, e nós concordamos, mesmo que não expliquem direito o que é isso.

     Depois dizem que é preciso fazer reformas trabalhistas, e nós concordamos, mesmo que não expliquem direito o que significa isso.

     Depois dizem que é preciso retomar o programa de desestatização, e nós concordamos, mesmo que não expliquem direito o que é isso.

     Depois dizem que é preciso reduzir a carga tributária dos ricos, e nós concordamos, mesmo que não expliquem direito o que é isso.

     Depois cortam os nossos direitos porque é preciso equilibrar o orçamento, e nós concordamos, mesmo que não expliquem direito o que é isso.

     Depois inventam que a inflação está fora de controle, e nós concordamos, mesmo que não expliquem direito como chegaram a essa conclusão se a inflação está dentro da meta.

     Depois anunciam o aumento da taxa de juros para supostamente combater a inflação que inventaram, e nós concordamos, mesmo que não expliquem direito o que significa isso.

     Depois dizem que é preciso mudar, sem dizer porque mudar, e para onde mudar, e nós sequer nos cuidamos de perguntar o que significa isso.

     Depois dizem que é preciso fazer desemprego e recessão para supostamente estabilizar a economia, e nós concordamos, mesmo que não expliquem direito o que é isso.

     Depois nos dizem que é preciso fazer amplas reformas para readquirir a confiança dos empresários na economia, e nós concordamos, mesmo que não expliquem direito o que é isso.

     Depois nos mandam votar num boa-vida, que promete salvar o Brasil de seu próprio sucesso, e nós ainda ficamos em dúvida, tamanha é a força da manipulação jurídico-midiática em nosso País.

     Nota. Um dia meu querido e dileto amigo Raphael de Almeida Magalhães, falecido há poucos anos, encontrou-se com Aécio e lhe disse algo mais ou menos assim: Se você realmente quer chegar a Presidente da República terá de mudar seu comportamento. Ao que Aécio respondeu: Se me quiserem como Presidente, terão de me aceitar como eu sou.

*Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

Um comentário:

Sugestão de Livros disse...

Muito bom o texto. Me fez lembrar o texto de Bertold Brecht:

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.