quinta-feira, 11 de julho de 2013

Sobre a greve geral, o PT, a política e a burguesia brasileira

     A greve geral foi um sucesso, com uma pauta nobre, íntegra, bem elaborada, que ataca as piores mazelas da sociedade brasileira.
     É evidente que um protesto contra a corrupção é positivo, porém, é limitado. Ser contra a corrupção (ao menos no discurso) todo mundo é. Difícil é defender pautas que trazes impactos a burguesia, que confrontam interesses arraigados, que ajudam os trabalhadores a majorarem seus benefícios:

PAUTA UNIFICADA DAS CENTRAIS SINDICAIS E DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

- Redução da Jornada de Trabalho para 40h semanais, sem redução de salários;
- Fim do fator previdenciário;
- 10% do PIB para a Educação;
- 10% do Orçamento da União para a Saúde;
- Transporte público e de qualidade;
- Reforma agrária;
- Fim dos Leilões do Petróleo e todo tipo de privatização;
- Contra o PL 4330, sobre Terceirização;
- Reforma política e realização de plebiscito popular;
- Reforma urbana;
- Democratização dos meios de comunicação;
- Contra o genocídio da juventude negra e dos povos indígenas;
- Contra a repressão e a criminalização das lutas e dos movimentos sociais;
- Pela punição dos torturadores da ditadura.


     Alguns reacionários de merda não quiseram apoiar porque seria um movimento da CUT ou do PT. Bem, é extremamente lamentável ouvir alguém falar desta maneira, com um pré-conceito porque alguém participa de determinada corrente sindical ou partido político. Por que não avaliaram a pauta - e tomaram a decisão de apoiar ou rejeitar o movimento a partir do que ali era defendido?

     Eu não sou petista, meu candidato nas últimas eleições presidenciais foi o Plínio de Arruda Sampaio (P-SOL), porém, fico extremamente consternado todas as vezes que vejo alguém com uma postura preconceituosa, caluniando pessoas que sequer conhece apenas porque participa de alguma agremiação política (qualquer que seja ela). Além do mais, conheço vários petistas, pessoas sérias e honesta e, cada vez que vejo alguém dizer estas infâmias fico sinceramente ofendido, porque caluniam pessoas pelas quais tenho respeito.
     Pergunto: qual é o tamanho da ignorância de uma pessoa que calunia alguém por participar do PT, partido que possui mais de um milhão de filiados? Como pode identificar característica singular no meio de tanta gente? Este erro já se repetiu, já identificaram e caluniaram grandes grupos apenas por terem alguma religião (judaica) ou raça (negra), que supostamente acarretaria defeitos na personalidade. É um absurdo completo, a história se repetindo como farsa, como disse Marx.
     Todas as vezes que vejo a expressão “petralha”, sinto um nojo absoluto, vejo a repetição deste erro histórico, um pré-conceito, uma calúnia, uma diminuição do ser humano sem ao menos conhecê-lo, apenas porque participa de um agrupamento qualquer. É uma tragédia e, os fascistas que repetem este discurso, sequer identificam que estão sendo movidos pelos piores interesses possíveis, dando coro a corja mais putrefata que existe em nosso país, a direita mais abjeta, mais totalitária, que despreza o voto, o povo e a democracia, que tenta demonizar seu adversário político porque não tem discurso, não tem ética, muito menos voto para se contrapor a ele. Daí parte para a calúnia, posto que é o mais fácil, o que dispensa inteligência, caráter, história ou eficiência.
     É como o famoso aforismo de Pierre Beaumarchais: “Caluniai, caluniai: alguma coisa sempre fica”.
     Justamente os maiores corruptos da história do Brasil repetem um discurso caluniador, posto que não tem absolutamente nada, nada de melhor a oferecer.

     Sou um admirador frustrado do PT, reconheço que é um partido que possui uma bela história, foi a personificação da causa trabalhista brasileira nas décadas de 80 e 90, porém, o Brasil mudou, o mundo mudou e o PT também, o partido fez concessões que eu não estou disposto a fazer (aliás, “as concessões são a ante-sala da traição”, disse certa vez Che Guevara), o PT fez alianças com uma parte reconhecidamente corrompida do estamento (aquela que acompanha todos os governos, independente de quem lá esteja, visando se locupletar do Estado), adotou uma política econômica pra lá de controversa, especialmente no governo Lula (pra se ter uma ideia, Lula chegou a se gabar diversas vezes em entrevistas dizendo que os banqueiros nunca tiveram tanto lucro como em seu governo – um escândalo), não reviu a lei da anistia, fez péssimas indicações ao STF e a PGR (e sofreram na pele por estas concessões), não fez a reforma agrária, etc. Enfim, não fez um governo de esquerda – para o qual foi eleito, frise-se. Quisesse o país um governante de direita, teria dado sequência ao PSDB no poder e eleito o Serra em 2002.

     Há diversas partes positivas também a se destacar, as políticas sociais (aumento do salário mínimo – a maior política social do governo Lula –, programas de cotas, bolsa-família), retorno dos investimentos estatais, apoio a indústria naval, política externa mais independente, ampliação do papel do estado – mesmo no combate a corrupção, com aumento drásticos dos quadros da polícia federal e da CGU –, e, um dos maiores feitos, a grande ampliação de investimentos na educação, mais do que dobrando o número de escolas técnicas, mais do que dobrando o número de vagas em instituições federais de ensino, afora o grande pessoal do Pró-uni, etc.
     Ou seja, a depender da ótica que se avalie, pode-se apreciar, pode-se depreciar o governo. Sempre penso que a análise definitiva do governo Lula depende do parâmetro que adotaremos. Se a comparação for com o que o governo poderia ter sido, ele foi muito mal. Se a comparação for com o governo FHC, foi um sucesso.


A burguesia brasileira e sua representação política

     Avalio que a elite brasileira possa ser dividida em três grandes grupos. O primeiro é a sequência da própria corte portuguesa, é aquela já aqui destacada, que se apodera do Estado, que vive as expensas dele, que quer estar no governo independente do partido que esteja no comando do país: é representada politicamente por diversos partidos, notoriamente o PMDB, mas também diversos outros (PP, PR, DEM, PSD, PSB, PTB, PDT – estes dois últimos tinham uma bela história que se esfarelou no tempo –, etc.).
     Não possuem ideologia nenhuma, são agrupamentos de interesses, possuindo eventualmente bons quadros (como Ciro Gomes no PSB, por exemplo), mas são no quadrante geral uma força do atraso para o país. 

     A segunda divisão, é a burguesia industrial, que foi a majoritária no mundo dos anos 40 ao final dos 70 e, que com todas as suas antinomias (lucros abusivos, danos ambientais, exploração da mão-de-obra, etc.), ainda assim, também possui rescaldos positivos, quais sejam: geração de emprego, renda e impostos. Esta parcela da burguesia foi a que o PT nasceu combatendo e, pasmem, é justamente a qual ela representa hoje.
     Esta parcela da direita, até por uma questão de classe, não se sente plenamente representada pelo PT, mas, avaliando-se criticamente, não há nem haverá dentro do quadrante político brasileiro um governo tão favorável aos empresários como o de Dilma Roussef. Ela, keynesiana clássica, acredita no desenvolvimento do país via indústria, via consumo, via produção. Não à toa o governo promove tantas concessões, desonerações diversas, estimula o BNDES a emprestar bastante, etc.

     A terceira divisão (para mim a pior delas), é a burguesia financeira, aquela vinculada ao mercado financeiro, que possui sua expressão política no PSDB. O PSDB é o partido do mercado financeiro e esta parcela da burguesia não traz rescaldo positivo nenhum. É concentradora de renda, não gera emprego, não gera impostos, faz uma corrupção límpida, por cima, se apropria dos recursos públicos muitas vezes sem sequer precisar “sujar as mãos”.
     Para citar um único caso, o da privatização do Banestado (banco estatal do Paraná), através do PROER, o governo FHC deu 5,2 bilhões de reais para que o Banestado fosse “saneado”. Em seguida, ele foi privatizado, por R$ 1,5 bilhão de reais, sendo que tinha, só de créditos a receber, R$ 1,6 bilhão de reais. Estes valores, frise-se, são da época. Esta é a corrupção moral, corrupção bilionária, a qual FHC fez em todo seu governo. Mas isto não dá notícia, não é escândalo, provavelmente quem leu agora nunca tivesse ouvido falar (já do mensalão...).
     Isto não implica dizer, claro, que também não sujassem as mãos, pra quem quiser saber da corrupção clássica no governo FHC, basta procurar saber sobre o próprio Banestado, tudo que ocorreu por lá afora sua privatização (há coisas, pasmem, piores ainda).
     O governo FHC, como já foi dito, foi majoritariamente dominado pela burguesia financeira. Porém, uma coisa até cômica, é que esta parte do conservadorismo nacional olhava com desprezo a outra parte também representada no governo tucano, eles viam com desprezo a parte corrupta vinculada ao Estado, na época, representada pelo então PFL (que sempre muda de nome de modo a esconder suas práticas).

     Uma coisa interessante é que a mídia brasileira e global foi totalmente dominada pelos interesses da burguesia financeira, é esta parcela do conservadorismo que eles representam. Por que a mídia se tornou neoliberal e “abandonou” os empresários? Porque hoje é no mercado financeiro que o dinheiro rola mais fácil, o mercado possui dinheiro fácil, muito dinheiro circulando o tempo todo. Já os empresários possuem grandes recursos, porém, investidos, não tem tanto dinheiro a mão.
     Não à toa há tanto apoio da mídia ao PSDB.

     Aliás, esta é outra coisa a se pontuar: não é a mídia que trabalha para o PSDB, é o PSDB que trabalha para (os financiadores d)a mídia. Daí o enorme apoio que o PSDB recebe.
     Não parece, mas interessa ao mercado financeiro, interessa a mídia um PSDB fraco, completamente dominado, cerceado, dependente fundamentalmente da mídia, interessa a ela que o PSDB seja um partido que não tenha base social – como não tem. Por que? Porque desta maneira o PSDB jamais, jamais poderá se contrapor a qualquer desígnio do mercado financeiro. Será sempre um cachorrinho de suas vontades. No dia em que discordar, cai – porque não possui base social nenhuma.
     É interessante, porque os próprios tucanos não conseguem compreender a extensão do domínio a que eles estão submetidos.
     Um candidato como Aécio Neves é a crua expressão desta tentativa de dominação.
     Qualquer pessoa minimamente séria e informada sabe que Aécio não possui capacidade nenhuma de governar um país, é um personagem muito mais preocupado com as noites do RJ do que com o futuro da nação. Por que então ele? Porque é justamente uma peça facílima de se dominar.
     Aliás, no caso nem precisava. Aécio Never não tem as ideias dominadas pelo mercado financeiro: ele simplesmente não tem ideia alguma.

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