quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O PSDB com o passar dos anos - por Alexandre Tambelli (Blog do Nassif)

Voltando ao passado e pensando na Juventude do PSDB do final dos anos 80 e início dos anos 90.

Eu costumo falar do perfil dessa galera, porque convivi com eles, também.

Na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP as esquerdas formavam agrupamentos político-ideológicos dos mais diferentes tipos, da esquerda radical ao centro-esquerdismo. Tinha o pessoal da Convergência Socialista, da Ação Trotiskista o Trabalho e outras correntes, todas dentro do PT, além do PCdoB, do MR-8 (dentro do PMDB), os lights da esquerda: que era a juventude do PSDB e outros grupos minoritários.

O jovem do PSDB não era o comunista ou socialista, nem o anárquico de plantão, mas defendia princípios básicos de Justiça Social, de Democracia, tinha uma visão humanista da sociedade, brigava por Justiça Social, respeitava o Estado como importante na construção de um Brasil mais igualitário e não tinha esse perfil de militante, que considera as esquerdas como inimigo político, ameaça para a ordem social e a democracia; além de não utilizar o jargão do "perigo comunista, do chavismo, etc.". E não eram mauricinhos, fique claro, os mauricinhos eram partidários do Malufismo.

Os políticos do PSDB nasceram da esquerda do PMDB e eram ligados ao movimento das diretas já! Os caras lutaram pela redemocratização do País. Até apoiaram LULA em 1989, no 2 turno. Lembram do Mário Covas, certo? Apoiou o LULA contra o COLLOR no 2 turno, em 1989.

Nós votávamos no PSDB de então, caso fosse necessário, em um 2 turno sem temor! Eles eram aliados dos progressistas e tinham um perfil de honestidade, de defesa da soberania brasileira, da busca por Justiça Social com a melhoria das condições de vida dos trabalhadores. E o mais importante, a imagem de honestidade. Falar o quê naquele tempo? De Franco Montoro, Almino Afonso, Mário Covas?

Até o José Serra era um perfil interessante de ser votado. Em 1986 foi candidato a Deputado Federal e a imagem dele era uma imagem progressista e de esquerda.

Na minha família, naquele período, os votos ainda estavam entre o PMDB (PMDB que tornou-se PSDB), No PMDB de SERRA - vindo do exílio - (pasmem), PMDB das diretas já, de parte dos estudantes da PUC e o seu movimento estudantil (meu irmão votava nesses caras nessa época), tinham ligação com a Igreja Católica (Comunidades Eclesiais de Bases) e, também, votos no PT do sindicalismo de LULA - meu irmão mais velho votava no PT desde 1982).

Era seguro votar no PSDB de então.

Então, no início dos anos 90, veio a avalanche neoliberal e no Brasil, um partido embarcou nesse caminho, talvez, porque era a moda de então e se queria um Projeto de Governo duradouro e antenado com o Mundo desenvolvido. O partido foi o PSDB, já com a cara de Fernando Henrique (seu ícone principal), que tinha sido Ministro da Fazenda, durante o fortalecimento do Plano Real, no Governo de Itamar. O Real elevou o FHC ao posto de nome mais importante do PSDB.

A imagem do PSDB de antes de 1994 com a influência neoliberal foi se transformando.

Então, a militância jovem, da esquerda light, foi desaparecendo (eles não eram neoliberais) do partido, migrando para outros partidos, tanto é que considero os jovens PSDBistas daquele tempo mais Petistas, hoje, que os próprios petistas. O PT, talvez, seja na prática o que poderia ser o PSDB até hoje, se adotasse as práticas da socialdemocracia, que deu origem à sigla de seu partido. Seria um partido bem mais forte nos tempos atuais.

E além do neoliberalismo viu-se uma guinada para o lado do individualismo político, dos governos de favorecimento individual dos políticos do próprio partido e não mais se enxergou uma imagem da política como uma ação coletiva voltada para o bem-comum. Com as privatizações deu-se o ápice desse individualismo, os políticos e amigos do partido abocanharam para si parte significativa do patrimônio público dos brasileiros. Foi se perdendo, gradativamente, a imagem dos primórdios do PSDB. E com ela perdeu-se a militância mais combativa e informada, boa parte da intelectual e a militância social.

Os interesses do neoliberalismo não coincidiam com os interesses sociais, com os interesses da classe trabalhadora, com o Estado indutor da economia, do desenvolvimento, regulador do mercado, de financiador do aparato social em saúde, educação e redistribuidor de renda.

O PSDB que nasceu da bandeira Social Democrata foi perdendo sua identidade e manteve apenas a sigla.

Adotou ainda, como uma marca registrada, posturas de acobertamento de tudo o que de errado havia nos seus Governos; a toda corrupção de seus partidários foi feita vistas grossas e aos poucos o partido, inicialmente formado de pessoas honestas, de uma esquerda mais light se perdeu, para sempre.

Abriu-se espaço para os mais diferentes tipos de políticos, que ali viam seu espaço para realizar atos ilícitos em benefício particular, sem que o Partido político fizesse vistas grossas aos atos cometidos. Foram paulatinamente ocupando o espaço deixado pelo Malufismo e se comportando seus políticos um pouco como o ACM, com certa truculência e se acomodando na velha mídia, que se beneficiava dos mais variados modos com o PSDB no Governo, em troca do acobertamento de denúncias de irregularidades do partido e, também, em troca da destruição das reputações partidárias e de políticos de outros partidos, principal alvo o PT.

Ao tornaram-se parceiros da velha mídia esqueceram-se de fazer política partidária, de pensar o Brasil e apresentar propostas de Governo para se contrapor ao PT; vivendo, quase que exclusivamente, desses acordos com a velha mídia, para acobertar suas irregularidades administrativas e atacar seus opositores, em muitos casos, em troca de benefícios financeiros, para os grupos de mídia, que se aliarem ao partido ou vivendo de simplesmente realizar a ideologia política da velha mídia. Praticamente, deixaram a política de lado.

Um Partido que se esqueceu de fazer política, que se aceitou como corrupto e não coibiu as irregularidades de suas administrações, que herdou o malufismo, que foi abandonando em plenitude a socialdemocracia, trocando-a pelo neoliberalismo radical e as privatizações a preço de banana, que foi se aliando ao conservadorismo dos Democratas (sem o menor constrangimento), um partido que passou ao cúmulo de dizer a todo instante quando vem ao microfone se defender de uma denúncia que tudo não passa de intriga da oposição (geralmente diz ser uma invenção dos petistas), que seus políticos sempre pousam de santos, que sempre consideram seus adversários inimigos da Democracia e corruptos, um partido que não tem um projeto de como Governar um País para confrontar com o do PT, que tem uma militância jovem que faz “sociodrama” do medo, para tentar ganhar nosso voto, que não tem sindicalismo, que quase não abre espaço para movimentos sociais participarem de suas gestões e do partido, que quase não têm mulheres e negros disputando eleições, um partido que não renova seus quadros, que não tem democracia interna e não respeita nem a soberania de uma convenção partidária escolhendo seus candidatos na canetada, que pouco aceita participar de projetos de outros partidos em benefício da população, que não enxerga nenhuma mudança no Brasil nos últimos 10 anos, que recebe apoio dos mais radicais grupos fundamentalistas de direita (mesmo que velado), da Igreja Católica em sua vertente mais conservadora, que coloca a bandeira do aborto como instrumento de se ganhar votos, etc. só poderia chegar aonde chegou: perto do seu fim e se sobreviver, ocupando um espaço na Direita, e na Direita mais retrógrada que exista.

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