quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Quem faz as denúncias? - por Ricardo Kotscho (Observatório da Imprensa)

Com os malfeitos municipais (licitação do Controlar) e estaduais (contratos do Metrô) tomando nas últimas semanas [em São Paulo] o lugar dos casos federais que dominaram o noticiário durante todo o ano, deu para notar uma importante diferença na origem das denúncias.

No plano federal, quem toma a iniciativa das investigações, das denúncias e, às vezes, até dos julgamentos de ministros, é a imprensa, quer dizer, os principais veículos de comunicação do país, com interesses econômicos contrariados ou com medo do fantasma do “controle social da mídia”.

A Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça vão a reboque do clamor da imprensa e dos partidos de oposição, tomando providências em função do noticiário e da opinião publicada (não confundir com opinião pública).

Já em São Paulo dá-se exatamente o contrário. Tanto no plano municipal como no estadual, quem investiga, denuncia e julga são os órgãos competentes e é a imprensa que vai a reboque dos fatos, limitando-se a registrar o resultado das investigações policiais e dos inquéritos do Ministério Público.

Donos e prepostos

O denuncismo seletivo e o tratamento diferenciado, oferecido principalmente pelos jornalões paulistas, acaba se refletindo também nas revistas semanais e nos telejornais de maior audiência, que só costumam repercutir e amplificar as denúncias contra o governo federal.

É verdade que a Folha de S.Paulo foi quem levantou a lebre do contrato das obras de um trecho da Linha 5 do Metrô, ao provar que os vencedores da concorrência já eram conhecidos seis meses antes. Depois disso, porém, ninguém mais foi atrás do assunto, até que a Justiça determinasse a suspensão das obras e o afastamento do presidente do Metrô, que já voltou ao cargo.

No caso do estranhíssimo contrato da Prefeitura com o Consórcio Controlar (das empreiteiras Camargo Correa e Serveng) para inspeção de veículos, assinado em 2007 por Gilberto Kassab, dez anos depois da licitação feita ainda nos tempos de Paulo Maluf, a imprensa só se interessou pelo assunto depois que o Ministério Público terminou suas investigações e a Justiça tomou providências, decretando o bloqueio dos bens do prefeito.

O destaque dado no noticiário às denúncias contra ministros, que já levaram à demissão de cinco deles, é desproporcional aos valores e à natureza dos ditos malfeitos, se comparados aos prejuízos causados aos cofres públicos pelo Metrô (em torno de R$ 300 milhões nos cálculos do Ministério Público) e pela Controlar (os promotores calcularam o valor da ação em R$ 1 bilhão).

Não se trata de mensurar a corrupção, mas de questionar o tratamento desproporcional dado pela grande imprensa a casos de igual gravidade no governo federal, no estadual e no municipal.

Só os donos da mídia e seus prepostos não estão se dando conta de que, com a internet, não dá mais para ter este tipo de comportamento sem que todo mundo perceba. É isso que explica a crescente perda de freguesia e de credibilidade da velha mídia.

Comentário
O que faz a grande diferença, no caso, é a ênfase. Se um bandido acusa o ex-ministro Orlando Silva, sem prova nenhuma, depois diz que não há nada contra ele pessoalmente, isto não basta, a fogueira da inquisição vai atrás da cabeça do ministro com tudo que pode. O ministro caiu, frise-se, quando o procurador-geral da república (aquele, Gurgel Brindeiro, que não tem o mesmo vigor para tentar reaver as operações Satiagraha e Castelo de Areia) aceitou em abrir um processo contra o ministro. No caso, ele ainda seria processado, apresentaria sua defesa, para depois, ter-se uma decisão condenatória. Kassab já foi julgado e condenado. Porém, a impressão que passa é a que o governo federal é que é um antro.
Tudo por causa da ênfase - oriunda de interesses diversos, é claro. Coincidências não há.

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