segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A segurança industrial e o WikiLeaks – por GalileoGalilei (blog do Nassif)

Nassif,
A história já é um pouco antiga (tem uns 12 dias), mas acho que não saiu na imprensa daqui.

Desculpe-me se eu estiver equivocado.

Fiquei surpreso diante das voltas e reviravoltas em uma história de espionagem e contra espionagem, envolvendo firmas de consultoria em ciber-segurança e grupos de apoiadores do Wikileaks, capaz de deixar muitas das histórias de James Bond no chinelo.

Ao mesmo tempo essa história revela uma face do sistema de segurança do complexo industrial norte-americano que intuíamos a sua existência, mas que até então ainda não havia chegado à superfície.

Ao que parece, tudo começou no final do ano passado, quando o CEO (Aaron Barr) de uma companhia especializada em consultoria de ciber-segurança (HBGary e sua co-irmã HBGary Federal) em dificuldades financeiras anteviu a possibilidade de receber um polpudo contrato de um escritório de advocacia contactado pelo Bank of America para blindá-lo de possíveis ameaças decorrentes de vazamento de documentos provocados pelo Wikileaks.

Havia também uma possibilidade de conseguir outro contrato de prestação de serviços para a Câmera de Comércio norte-americana.

Para ganhar o(s) contrato(s), Barr preparou algumas palestras onde defendia táticas, digamos pouco ortodoxas, sugerindo invadir os servidores da Wikileaks, forjar documentos para desacreditar a organização, investigar a vida pessoal de supostos vazadores de documentos, bem como de apoiadores, tanto para pressioná-los quanto chantageá-los, etc...

Entre o repertório de possíveis ações havia inclusive a intimidação de jornalistas, amplamente conhecidos como favoráveis à Wikileaks, além de colecionar tweets de ativistas procurando mapear suas atividades e suas conexões na rede.

O(s) contrato(s) demorou(ram) para ser celebrado(s) e Aaron Barr, enquanto aguardava a aprovação do(s) mesmo(s), resolveu se infiltrar em um grupo de ativistas do FaceBook, auto-denominado Anonymous, supostamente responsável pelos ataques à Mastercard e à Visa, em represália ao bloqueio de fundos do Wikileaks realizado por essas organizações.

Talvez para angariar publicidade para as suas empresas em dificuldades e/ou para demonstrar suas habilidades, Barr começou a divulgar que teria descoberto a identidade dos principais ativistas dos Anonymous.

Foi aí que, no início de fevereiro, o Financial Times publicou uma reportagem retirando Barr do anonimato e divulgando que os principais membros do Anonymous teriam sido por ele identificados.

O Anonymous não só desmentiu a suposta identificação de seus líderes, como contra-atacou fulminantemente um dia depois, invadindo os servidores das empresas de Barr, derrubando seu Website, apoderando-se de toda a correspondência eletrônica, destruindo cerca de um TeraByte de dados - incluindo Backups, danificando sua conta no Tweeter e apagando remotamente seu iPad.

Pior que isso, após a tomada e estudo prévio da correspondência eletrônica de Barr, cerca de 40.000 e-mails e algumas apresentações em power-point foram divulgadas publicamente através do PirateBay.
Essa divulgação do material encontrado nos computadores de Barr revelou alguns dos agressivos métodos sugeridos de ataque, muitos deles fora da lei.

O Bank of America e a Câmera de Comércio norte-americana, apesar da divulgação dos e-mails em que estas se mostravam envolvidas até o pescoço nas negociações com Barr resolveram negar tudo alegando sempre terem trabalhado dentro da lei e da ética.

As fontes, cujos links coloco abaixo, são insuspeitas:

http://www.ft.com/cms/s/87dc140e-3099-11e0-9de3-00144feabdc0,Authorised=false.html?_i_location=http%3A%2F%2Fwww.ft.com%2Fcms%2Fs%2F0%2F87dc140e-3099-11e0-9de3-00144feabdc0.html&_i_referer=#axzz1DWB0kKHq
http://blogs.forbes.com/andygreenberg/2011/02/14/hbgary-ceo-also-suggested-tracking-intimidating-wikileaks-donors/
http://arstechnica.com/tech-policy/news/2011/02/how-one-security-firm-tracked-anonymousand-paid-a-heavy-price.ars

Mas a melhor reportagem é esta aqui embaixo, feita alguns dias depois quando já era possível ter dados para mostrar os encadeamentos dos fatos:

http://arstechnica.com/tech-policy/news/2011/02/the-ridiculous-plan-to-attack-wikileaks.ars/

Esta última é bem longa, mas emocionante.

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