domingo, 8 de agosto de 2010

Os atores

Sobre o debate, ainda tenho mais o que comentar. Parece-me que os presidenciáveis, excetuando o Plinio, padeceram por uma completa, uma absoluta desfaçatez.

Marina não poderia ser alcunhada mais brilhantemente do que de ecocapitalista. Ah, sim, o desenvolvimento deve ser sustentável, ah, sim, a geração de empregos deve contemplar o respeito ao meio ambiente, ah, sim, o crescimento econômico não pode ocorrer prejudicando a natureza, ah, sim, é possível conciliar estas duas forças antagônicas, ah, sim, papai Noel manda lembranças.
Serra defendeu a reforma agrária, políticas sociais, e até se referiu num tom favorável aos sindicatos. Ah, claro, é um ótimo negociador, um grande democrata, acredita mesmo na negociação sindicato-patrão: os cassetetes da PM paulista contra os professores que o digam.
Dilma já segue o caminho inverso. Não defendeu causas progressistas, causas trabalhistas, parece que seu passado é vinculado não a esquerda, mas ao atraso. A sua recusa em defender as 40 horas semanais de trabalho deu simplesmente nojo. Nojo. Defende somente o governo Lula. Passou ao largo minimamente deste governo, ela se esquiva, se esconde.
É um grave erro grave ela abandonar sua ideologia em nome de uma conjuntura político-eleitoral. Sobre o que ocorre com a Dilma, relembro-me de um adágio de Ralph Waldo Emerson: “É uma lição que a história ensina aos homens sábios: de confiar em idéias, e não em circunstâncias”. O pior de tudo, mesmo é se ela de fato passou a acreditar nas barbaridades que está defendendo, como a independência do BC.
Talvez devido à proximidade com Palocci (este demo-tucano infiltrado no PT), ela vai se direcionando cada vez mais para a direita.

A incrível explicação de Dilma e Serra, de que o tempo de 40 horas semanais não pode ser aplicado em todo o Brasil devido às diferentes condições sócio-econômicas em cada região, mais parece uma explicação da teoria da relatividade. Como explica a teoria, o tempo não é constante, pode variar em determinadas condições. Porém, para estes candidatos, o que faz o tempo contar diferente são as regiões onde ele é contado (e não o aumento da velocidade a valores magnânimos, como explica a teoria). As 40 horas da região sul são diferentes das 40 horas da região nordeste. ¿Como explicar uma loucura destas?
Porém, se para Einstein a única coisa que não varia é a velocidade da luz, para estes dois candidatos, o que não parece variar é a sua completa submissão, sua completa subjugação ao capital.

Plinio venceu o debate não só porque, em minha opinião, tem uma ideologia mais favorável, isto é particular, varia de cada um pra cada qual, não o considero vencedor por isto.
Venceu o debate incontestavelmente porque foi o único que não fingiu, não inventou, não escamoteou. Disse a que veio, o que pensava, o que sentia. Isto, sem recorrer aos arroubos moralistas-direitistas da sua colega de partido Heloísa Helena.
Plinio é um rebelde com causa, ou, para usar palavra fora de moda, um revolucionário. E o que é melhor, um revolucionário que não se esconde.

Os outros três, com suas carapuças, suas máscaras, eram meros embusteiros, meros atores que representaram o tempo todo. Uns estiveram melhor no palco, outros nem tanto (¡precisam decorar melhor as falas!). De qualquer modo, o pecado não foi este. O pecado é que não foram espontâneos, e não foram, porque somente representavam.
Uma lástima.

P.S: como tudo leva a crer que a Dilma será eleita, é com extrema preocupação que observo a importância de Palocci em sua campanha. O governo Lula só começou, de fato, depois que este tucano saiu do governo e os desenvolvimentistas ocuparam o ministério da fazenda. ¿Dilma – e o Brasil, por conseguinte – vai perder quantos anos com o quebrador de sigilos bancários?

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