quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Os suicídios na France Telecom - Por Luiz Eduardo Brandão (blog do Nassif)

Soube há pouco de uma história que me deixou estarrecido, e que mostra também como nossa imprensa cobre mal o que acontece com os trabalhadores mundo afora.
A France-Télécom implantou uma política de “mobilidade sistemática” de seus cadres (quadros técnicos e administrativos com cargos de chefia intermediária, no caso ). Por essa política, a cada 3 anos esses funcionários são transferidos de local de trabalho. Imaginem o que isso representa para as famílias. À parte isso, estabeleceu metas individuais de produtividade que geravam uma concorrência insuportável entre colegas de trabalho, metas aliás consideradas por trabalhadores e sindicalistas geralmente impossíveis de serem atingidas com os meios materiais disponíveis.
Resultado: o que a imprensa – inclusive a midiona, não só a imprensa sindical ou independente — chamou de uma “série negra”, em alusão à célebre coleção francesa de romances policiais, de que os homicídios costumam ser o recheio (assim chamada por causa da capa preta dos livros). Trata-se de uma verdadeira epidemia de suicídios: nada menos de 24 funcionários se mataram ultimamente, devido à pressão a que eram submetidos.
Ante o último suicídio, 2ª-feira passada, de um funcionário de um centro de chamadas da linda cidade de Annecy, nos Alpes, que se atirou de um viaduto sobre uma auto-estrada deixando um bilhete em que atribui seu ato “ao clima no seio da minha empresa”, um dirigente sindical da CFTC (central cristã) se indigna: “É uma vergonha. Ele trabalhava num serviço que era conhecido faz tempo por ser insuportável, havia uma verdadeira indiferença, nenhuma humanidade, só se falava em números, os assalariados eram carne de patê!”
Foram necessárias essas 24 mortes para que o presidente de France Télécom prometesse rever essa política de mobilidade sistemática, pressionado por todas as partes, inclusive pelo ministro do Trabalho do gov. Sarkozy, que pressionou o PDG a acelerar as “negociações sobre a prevenção dos riscos psicossociais”. Foi necessária toda essa macabra série de suicídios para que a direção da empresa se mexesse!
Os métodos neocons, além de desastrosos para a economia dos países, como se vê são também uma ameaça à integridade física e psíquica dos trabalhadores.

Comentário: é o neoliberalismo em seu estado pleno. Aposto que as ações da empresa subiam a cada morte.

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