sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Governo x multinacionais brasileiras - por Luis Nassif

Do Último Segundo
Coluna Econômica 20/10/2009
A caminhada do país rumo a um papel mais relevante no cenário mundial esbarra em alguns problemas culturais entranhados. Um deles é a visão provinciana, de quem não consegue entender as relações entre governos e grandes empresas.
Grandes multinacionais são extensão dos governos nacionais.
Lembro-me de um episódio, anos atrás, em que um presidente da Volkswagem do Brasil – austríaco – teceu algumas considerações sobre o “apagão” energético. A reação transbordou as críticas contra a Volks e quase se tornou um caso diplomático.
***Grande parte do poderio norte-americano no mundo resultou dessa aliança governo-grandes empresas. Da parte do governo, essa relação se manifesta nos acordos comerciais, nos tratados sobre direitos autorais, nas disputas na Organização Mundial do Comércio, no financiamento da expansão dessas empresas.
De sua parte, as multinacionais nacionais têm a obrigação de oferecer a contrapartida, garantindo investimentos no país, abrindo espaço para outros setores poderem exportar, ajudando a reforçar a diplomacia comercial nos países em que estiver instalada.
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O avanço da economia brasileira permitiu a montagem de várias frentes setoriais. Há as empreiteiras que, nas grandes obras em outros países, podem carregar consigo um bom volume de fornecedores, seja de insumos e alimentos para a obra, até como exportadores para os países em questão.
Uma segunda frente relevante é no agronegócios. Nos últimos anos foram feitos investimentos vultosos na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Simultaneamente, Lula montou caravanas de usineiros que visitaram a África, América Central oferecendo know how e equipamentos brasileiros para a produção de etanol nessas regiões. A diplomacia do etanol, aliás, é das mais promissoras, especialmente no relacionamento com regiões tropicais.
Outra frente que se abre é a dos grandes frigoríficos, que começam a se espalhar pelo mundo.
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Ao provocar a Vale, para que aumente seus investimentos e, em seguida, fustigar as siderúrgicas, Lula deu o pontapé inicial no jogo – que terá que ser aprofundado por seus sucessores.
A Vale tem um programa de investimentos, sim. Ofereceu projetos a siderúrgicas brasileiras e a contrapartida do minério e de investimentos. Mas a situação interna do país, especialmente a defasagem do câmbio, inibiu os investimentos.
Se, de um lado, Lula, tem razão em cobrar investimentos da Vale e das siderúrgicas, tem que oferecer a contrapartida de um ambiente econômico mais competitivo.
Reside nessa dupla cobrança a riqueza desse relacionamento Estado-multi.
Esse ambiente passa por pressões sobre o Banco Central por taxas de juros civilizadas, melhoria de infra-estrutura, modelo cambial mais competitivo, racionalização das leis de meio ambiente (agilizando sem reduzir os cuidados).
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É essa a dinâmica que irá vigorar nos próximos anos. Direitos e responsabilidades recíprocos preparando o Brasil para um papel cada vez mais relevante.

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