sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Como o PSDB terceirizou a política (e ainda o "caso" Lina) - por blog do Nassif

Continua a piada pronta.
Segundo matéria da Folha, a Casa Civil informa que na hora da tal reunião com Lina Vieira ela, Dilma, estava com o presidente da República e não participou de reunião alguma. Lina diz, em depoimento no Senado, que não houve reunião em 9 de outubro porque estava em São Paulo. Ambas – casa Civil e Lina (no Senado) informam que houve reunião na Casa Civil para tratar do tal encontro dos CEOs.
E, depois de pesar todos os elementos, o ponderado senador Arthur Virgílio encerra o samba do crioulo doido com uma frase lapidar:
“Devido ao surgimento de novas e irrefutáveis provas é imprescindível a presença da ex-secretária”, disse o líder do partido, Arthur Virgílio (AM).
Desde que a agenda política passou a ser comandada pelas manchetes do circuito Folha-Veja-Globo, a oposição só afunda. Criou-se um mundo virtual totalmente dissociado da realidade, auto-referenciado, sem auto-crítica, com esse nível de “provas novas e irrefutáveis”.
Esse fenômeno ainda há de ser estudado e, no futuro, considerado o maior engano de comunicação já produzido por uma liderança política no país: José Serra, o homem que terceirizou a estratégia política para os jornais.
O que está por trás dessa imprudência é o seguinte.
No mano-a-mano, a oposição perde a batalha da comunicação para Lula. Decide, então, curvar-se a essa realidade, deixa de lado o “feeling” político próprio – por não confiar nele – e terceiriza a estratégia comunicação para quem presumivelmente entende e comanda o processo: a mídia. Assim, a parte mais sensível de uma campanha política, a formação da imagem e das ideias, é substituída pelo exercício fácil de atender às demandas da mídia e deixar o trabalho por sua conta e risco. Só não entendeu que a demanda da mídia é distinta da agenda política. A lógica da mídia é imediatista. Em outros países, pode atuar como formadora de opinião, mas sempre comandada por ideias que emanam de partidos políticos.
Sem o fio condutor das ideias, a mídia desandou. No Brasil, aliás, há muitos e muitos anos a única ferramente de que dispõe é a escandalização. Não existe estratégia sequer para coberturas continuadas. Vive-se da mão para a boca, publicando amanhã a mera suspeita que foi aventada hoje e será repercutida depois de amanhã.
Antes, os estrategistas políticos eram pessoas como Tancredo Neves, Tales Ramalho, Ulisses.No campo das ideias, economistas, intelectuais, entre os quais o próprio Serra.
Na era Serra foram substituídos pelo Ali Kamel (!), Merval (!), o Otavinho (!), o Roberto Civita (!), as colunistas políticas – que diariamente mandam orientações à oposição sobre como proceder, dão broncas quando acham que a oposição está desanimando, passam pito, ordenam isso e aquilo. E as lideranças aceitam de cabeça baixa, entram em todas as geladas que esse processo desembestado gera, criam até CPI da Petrobras e, depois que a empresa lança uma monumental campanha midiática, ficam órfãs, sem saber porque a mídia se desinteressou pelo tema, depois de obrigá-las a entrar na fria.
Além disso, à falta de ideias condutoras, da capacidade de compreensão do processo político, da incapacidade de discutir propostas ou modelos de país (porque exige ir além dos slogans e porque não faz parte da lógica midiática), a mídia brasileira adotou a agenda neocon – um modismo norte-americano, minoritário até nos EUA que, no caso brasileiro, vinha pronto e embalado (criado pelo brilhantismo obcecado de Olavo de Carvalho e repetido por meia dúzia de papagaios). Um discurso restrito, de pouca ressonância, tornou-se hegemônico na mídia. E, pior: não por convicção, como em Olavo, mas por visão míope de mercado.
Não é mais a política comandando o discurso – como ocorreu com o PMDB de Ulisses, com o próprio Collor, até com o mercadismo de FHC. São as criaturas de FHC colocadas num liquidificador, resultando em um monstrengo ideológico, misturando neoliberalismo + pensamento neocon + intolerância + estilo esgoto de agressividade. Pior: condicionando o discurso político do herdeiro de seu criador, Serra.
Como a mídia, seguramente, não estava à altura do desafio de pensar programaticamente – e nem poderia estar, porque a lógica dos jornais é outra – criou-se essa mixórdia visceral, um debate circular em torno de Honduras, FARCs, cotas raciais, Venezuela, erros de português do Lula, Honduras, Bolsa Familia, Foro de São Paulo, FARCs, Moralez, erros de português do Lula, Honduras, Cuba, Fidel… Meu Deus! Essa temática só existe na cabeça deles e de leitores influenciáveis (e sem nenhuma relevância). Não há um ambiente minimamente esclarecido – seja entre empresários, intelectuais, classe média esclarecida, classes populares – que tenha saco para entrar nesse jogo.
Serra conseguiu transformar um partido que já representou esperança de mudança do país em sucursal da mídia. Não de um New York Times, mas da Veja.
Dá para entender sua diferença do, por exemplo, neto do Tancredo Neves? É a política, estúpido!, diriam os estrategistas de Obama.
Da Folha

Dilma volta a negar encontro com Lina e dá caso por encerrado

Afirmação foi feita após a ex-secretária da Receita ter dito que localizou a agenda com o registro do suposto encontro
Casa Civil admite ida de Lina ao ministério em 9.out.08, mas diz que reunião foi com secretária-executiva; Dilma estaria com Lula nesse dia
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
VERIDIANA RIBEIRO
ENVIADOS ESPECIAIS A ARARAQUARA E SÃO CARLOS (SP)
Ao término de mais um ato com todos os ingredientes de pré-campanha eleitoral, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) disse ontem, em Araraquara (SP), que dá por encerrado o caso Lina Vieira, apesar de a ex-secretária da Receita Federal afirmar ter encontrado a agenda na qual consta o registro do suposto encontro entre as duas no Palácio do Planalto, em 9 de outubro do ano passado.
“Repito e reitero: não tive reunião privada com a ex-secretária. Acredito que o processo esteja encerrado desde o depoimento dela no Congresso.”
A agenda reforça o relato que Lina fez à Folha em agosto, quando afirmou que Dilma havia solicitado o encontro para encaminhar o que a ex-secretária interpretou como uma ordem para encerrar logo auditoria sobre os negócios da família do senador José Sarney (PMDB-AP). Ordem que Lina afirma não ter acatado.
Ontem, a Casa Civil informou que a ministra não se encontrou com a Lina no dia 9 de outubro. Segundo a assessoria de Dilma, Lina esteve na Casa Civil naquele dia, pela manhã, para reunião com a secretária-executiva, Erenice Guerra, e com o coordenador do Fórum de CEOs, Alessandro Teixeira.
Na tarde do dia 9, a ministra viajou para São Paulo. A Casa Civil diz que no encontro de Lina com Erenice e Teixeira se tratou exclusivamente de assuntos relacionados ao fórum. Dilma, informou a assessoria, estava com o presidente Lula.
Nessa data, a agenda da ministra tinha quatro compromissos: despachos internos e três reuniões com Lula.
Cruzando com os compromissos presidenciais, a ministra teria participado às 10h de reunião com Lula e com o ministro José Pimentel (Previdência); de um encontro sobre estratégia nacional de defesa e, à tarde, de reunião com Lula e o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). A viagem não consta da agenda da ministra no site da Casa Civil.
Pré-campanha
Ontem, Dilma foi recebida em Araraquara com faixas que a saudavam em tom de campanha: “Dilma é o terceiro mandato de Lula” e “Copa do Mundo 2014, Olimpíada de 2016, é o PT com a força do povo”.
Ela participou da vistoria da reforma do estádio de futebol da Fonte Luminosa. No evento, estavam o prefeito de Araraquara, Marcelo Barbieiri (PMDB) e de Ribeirão Preto, Darcy Vera (DEM).
Em seu discurso, Dilma cometeu ato falho ao dizer que, se uma obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) estiver concluída no começo de 2010 na cidade, portanto antes do prazo de desincompatibilização exigido pela lei, irá participar da inauguração.
Ao encerrar, disse: “Vamos com muita fé, com muita esperança, continuar as mudanças feitas pelo presidente Lula”.
Em São Carlos, a ministra defendeu os programas do governo federal para uma plateia de 26 prefeitos e representantes de 33 municípios do interior paulista: “Precisamos da mão protetora do governo para essa população”, disse.
O PSDB protocola hoje requerimento para ouvir a ex-secretária na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), o que pode abrir caminho para a convocação da ministra.
“Devido ao surgimento de novas e irrefutáveis provas é imprescindível a presença da ex-secretária”, disse o líder do partido, Arthur Virgílio (AM).
Colaborou a Sucursal de Brasília

Caso Lina: como fica a Folha

Por Edvard Bagdonas
Caro Nassif,
A soberba da Folha de São Paulo continua e não tem limites. O exemplo mais claro disso é o “requentado” caso Lina, senão vejamos:
Desde domingo a FSP tem informado o encontro da “agenda” da Sra. Lina, com anotação da data do suposto encontro com a Ministra Dilma. Tal informação foi requentada pela “Veja” e repercutida pela FSP. Como todos sabem essa informação foi obtida através de “terceira” pessoa, amigo (a) da Sra. Lina.
Pois bem, hoje, após três dias deste “prato requentado”, a FSP sequer procurou a Sra. Lina para esclarecer esse fato. Sequer existe aquele clássico final de reportagem onde o jornal informa que “procurou e não obteve retorno”.
Pior, o caso foi literalmente “detonado” pela internet, pois o horário e o dia deste suposto encontro é totalmente contrario ao que a Sra. Lina afirmou em seu depoimento na CCJ. Tem até vídeo que prova isso, mas a FSP nada esclarece ao seu leitor.
MUITO PIOR. Nos últimos três dias a FSP publicou duas cartas em seu “PAINEL DO LEITOR”, uma hoje e outra na segunda, ambos com comentários favoráveis a FSP. Nada, repito: NADA foi publicado sobre as contradições da data e/ou horário do suposto encontro.
Pergunto: Será que os leitores da FSP perderam o senso critico ou foi a FSP que perdeu a noção da função pública de um jornal? Pelo que parece, a segunda hipótese é mais evidente.
O que a Folha de São Paulo tem feito nos últimos dias é, no mínimo, desinformar o seu leitor.

Nenhum comentário: