segunda-feira, 9 de março de 2009

A estrela e o santo - por Luis Nassif

Frei Betto montou seu marketing se anunciando amigo de Fidel; Patrus Ananias, trabalhando duro na periferia.
Betto leva apoio espiritual a políticos ilustres, jornalistas conhecidos, intelectuais afamados; Patrus se dedica aos pobres.
Betto fez sua opção preferencial pelas celebridades; Patrus, pelos anônimos.
Betto procura os holofotes; Patrus a ação discreta.
Betto tem os pecados capitais da soberba e da inveja; Patrus as virtudes da humildade e da sabedoria.
Betto coloca bandeiras a serviço da promoção pessoal; Patrus iça as bandeiras, e se esconde, com pruridos para não se beneficiar da própria obra.
Betto participou de um programa caótico, o Fome Zero; Patrus criou um programa modelo, o Bolsa Família.
Até hoje Betto busca holofotes para celebrar seu fracasso; raramente se vê Patrus celebrando seu sucesso.
O Fome Zero era um esforço de marketing; o Bolsa Família um trabalho que incorpora indicadores avançados, modelos de gerenciamento e parcerias com o setor privado para as chamadas portas de saída dos miseráveis.
Betto critica o Bolsa Família por não ter porta de saída; o Fome Zero não tinha porta de entrada. Era um mero programa que distribuía alimentos, mas nem contribuições conseguia receber por desorganização ampla e geral.
Em suma, é isso o que explica as catilinárias permanentes de Frei Betto, o soberbo, contra a obra de Patrus Ananias, o humilde. Um é candidato a estrela; outro, é candidato a santo.
No Estadão de hoje Betto volta à carga: “Bolsa-Família é política de governo e projeto de poder”. Nas suas memórias ele atribui o fracasso do Fome Zero à pouca vontade do governo em bancar campanhas promocionais. O fracasso não decorreu da falta de holofotes, mas do excesso de preocupação com o brilho.
Quando ambos morrerem, São Pedro os estará aguardando na porta do paraíso. Betto empurrará Patrus, acelerará o passo para chegar na frente: “Eu sou Frei Betto, amigo do Fidel, do Chico Buarque, orientador espiritual da dona Marise, da dona Risoleta, da Milu Vilella, de psiquiatras, escritores e intelectuais famosos”.
Com paciência, São Pedro o afastará educadamente com um braço, enquanto com o outro indicará a Patrus a entrada. Procissões de anjos celebrarão sua chegada.
Betto não receberá o castigo eterno. Apenas passará uma temporadinha no purgatório, para se livrar definitivamente dos pecados da soberba e da inveja.
Aliás, quando vejo Patrus, o irmão leigo, quase volto a acreditar. Aí vejo Betto, o religioso, e caio na real novamente.

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