segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A manchete campeã - por Luis Nassif

Curioso O Globo. É o jornal com maior pique para grandes coberturas. E é capaz de ataques de “folhite” para ninguém botar defeito. Às vezes consegue superar amplamente o concorrente (clique aqui).

Confira a manchete principal de hoje:

CEF não ouviu auditores no socorro jumbo à Petrobrás”.

Também não me ouviu, nem a Mirian Leitão, nem Henrique Meirelles. E por que haveria de ouvir? Para a manchete ter alguma justificativa, a matéria teria que explicar a grande indagação: por que ouvir os auditores?

Vamos à matéria:

Devido ao tamanho e ao ineditismo do empréstimo de R$ 2 bilhões feito pela Caixa Econômica Federal (CEF) à Petrobras, os auditores da instituição financeira avaliam que deveriam ter sido consultados previamente para verificar os termos e as condições do negócio”.

É o tipo da frase arrancada da fonte, daquelas em que o aquário incumbe o repórter de conseguir a declaração salvadora. A operação não ultrapassou nenhum limite autorizado. O risco, zero, pois na outra ponta há uma empresa prime, controlada pelo próprio Estado nacional.

Vamos ao restante da matéria, para entender onde se encontrou argumento para a manchete e como o pobre do repórter precisou suar sangue para atender ao aquário:

O anúncio do acordo despertou curiosidade entre os 370 auditores da instituição. Eles só ficaram sabendo por meio de uma notícia, em tom entusiasmado, divulgada em 31 de outubro na intranet (página interna) da Caixa. O texto, com a foto de apertos de mãos no ato da assinatura do contrato, cita o vice-presidente de Atendimento da Caixa, Carlos Borges, para quem a transação concretiza uma parceria iniciada em 1999 com a Petrobras e indica que a instituição quer fazer dele uma alavanca para novos negócios.

A Caixa vive um momento privilegiado, com o reconhecimento do mercado de que somos também um banco comercial. Essa operação fortalece a parceria de duas grandes empresas que são instrumentos da política de desenvolvimento social do país”, afirmou Borges na nota.

Ou seja, internamente a operação foi considerada um feito para a CEF.

O texto ainda registra o depoimento do diretor de Finanças da Petrobras, Almir Barbassa, que comemorou a assinatura do contrato. Para ele, seria a evidência de que o Brasil caminha na direção certa. “É auto-suficiente em todos os sentidos, incluindo o financeiro, ao obter um empréstimo dessa magnitude de uma empresa brasileira”, afirma a nota, reproduzida no site da Funcef (fundo de pensão dos funcionários da Caixa.

Voltemos aos auditores, segundo a a matéria

Para os auditores, em uma avaliação preliminar, não há indícios de problemas técnicos ou legais no acordo.
Segundo Souza, não haveria impedimento de a Caixa emprestar para uma empresa de petróleo, apesar de a maior parte de os financiamentos da instituição ser destinada à habitação
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O restante da matéria é recheada com as seguintes frases:

(...) O montante emprestado representa 90% do valor permitido para a Caixa. Isso não representa um problema (segundo o entrevistado), mas não pudemos avaliar os detalhes.

Há um total desconhecimento das razões que cercaram essa operação
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Finalmente, explica para que servem as auditorias:

As auditorias, em geral, são planejadas com antecedência. As não previstas têm a anuência da direção da Caixa. Em casos rumorosos, os auditores são acionados. Um deles foi a avaliação dos contratos arrolados na Operação João de Barro, deflagrada em junho, que investigou desvios de recursos repassados pela União a estados e municípios em convênios ou empréstimos cedidos pela Caixa. Os auditores também fizeram uma devassa nos contratos envolvendo a Construtora Gautama, denunciada por desvio de dinheiro público.

Ou seja, nada a ver com a operação feita com a maior empresa do país, que tem como acionista controlador o próprio Estado brasileiro.

Internamente, a coluna da Mirian, também chamada na primeira página. A crítica dela se resume ao fato da Petrobrás ter contratado o crédito para a compra de um diesel poluidor.

Por Roberto São Paulo/SP

Creio que estão discutindo o assundo menos preocupante no momento neste caso do empréstimo concedido pela CEF e pelo Banco do Brasil a Petrobrás.

O devemos avaliar é as consequências na queda da entrada dos financiamentos externos, colocando em risco o equilíbrio na Balança de Pagamentos.

Se mesmo um empresa como a Petrobrás está encontrando dificuldade para rolar os financiamentos externos, o que dirá as demais empresas brasileiras. Isto torna mais urgente ainda a correção do déficit em conta corrente.

Por alexandre

nassif
o globo de hoje, domingo, na pág 27 numa coluna fininha e pequena(bem escondidinha) deu mais uma nota desmentindo a manchete de ontem. Reafirma que não é obrigatório a análise de auditores no empréstimo. E o Élio Gaspari fala sobre o empréstimo sobre o título : "veneno tucano na petrobras"

Caixa: auditores não precisam ser consultados

`A função deles é auditar as operações já realizadas´, diz CEF


BRASÍLIA. A direção da Caixa Econômica Federal (CEF) disse ontem, em nota, que na operação de crédito de R$ 2 bilhões concedidos à Petrobras não havia necessidade de consultar previamente o corpo de auditores da instituição.
Segundo a assessoria de imprensa da CEF, nesse tipo de procedimento não é praxe um aval dos auditores.
“Os auditores não precisam ser ouvidos antes das operações.
A função deles é auditar as operações já realizadas”, diz a nota da assessoria de Imprensa da Caixa.
Segundo o presidente da Associação Nacional dos Auditores Internos do banco (Audicaixa), Antonio Augusto de Miranda e Souza, apesar de não ser obrigatória, essa consulta ao corpo técnico seria um procedimento desejável e prudente neste caso atípico, conforme informou ontem O GLOBO, pois isso daria mais conforto à direção da Caixa na tomada de decisão de um pedido de crédito tão alto como o feito pela Petrobras
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Comentário


Segue-se uma infindável seqüência de "mas, porém, contudo, todavia, entretanto".


Ontem O Globo teve um ataque de “folhite” ao cometer a manchete mencionada. Devia continuar se espelhando na Folha e resolver a questão com um singelo “erramos”. Simples. O contorcionismo para explicar que “não é bem assim” só piora o quadro.

Do Blog do Alon


O editorialista do Estadão voltou das férias (29/11)


De um editorial de hoje de O Estado de S.Paulo (A Petrobrás deve respostas):


O espanto foi justificado, também, pelo fato de a Petrobrás ser uma empresa com ações cotadas no exterior e com acesso fácil, pelo menos até agora, ao mercado financeiro internacional. Em condições normais, não precisaria, portanto, concorrer com empresas nacionais - e, mais que isso, com empresas muito menores - na busca de empréstimos concedidos no mercado interno, especialmente de recursos destinados ao capital de giro, hoje muito escasso e muito caro para a maior parte das companhias.

O editorial, como sempre muito bem escrito, trata da polêmica sobre o empréstimo da Caixa Econômica Federal (CEF) à Petrobrás. Aliás, eu gostei de o Estadão ter escrito "Petrobrás" assim, com acento. Mas vamos ao que interessa. Diz o editorialista que a empresa petrolífera estatal (graças a Deus!) tem "acesso fácil" ao mercado financeiro internacional. E que, "em condições normais", não precisaria portanto "concorrer com empresas nacionais na busca de empréstimos concedidos no mercado interno". Pois eu tenho uma notícia exclusiva para o editorialista do Estadão. É um verdadeiro furo. Eu revelo agora a ele -e talvez ao país- que as condições do mercado financeiro internacional não têm sido "normais" nos últimos tempos. Há uma certa escassez de crédito e a situação das bolsas de valores não é exatamente propícia para operações de capitalização. Talvez o escriba esteja voltando de férias agora e tenha ficado meio desconectado. Mas isso não é problema. Ele pode acessar o excelente site www.estadao.com.br/economia e vai obter ali toda a informação necessária para ficar por dentro de como anda o mundo
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