quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A remontagem do Estado - por Luis Nassif

Dia desses recebi a visita de um funcionário aposentado do Banco Central, que cumpriu cargo de relevo nos anos 80 e início dos anos 90. Ele assistiu a todas as estripulias do governo Sarney, a maneira como viabilizou o Banco Santos, os esquemas com taxas de juros, as lambanças de diretores do BC no período, a quebra do Banespa.
Vestia um terno modesto e narrou as diversas oportunidades que teve, ao longo da carreira, para enriquecer dando golpes. E como resistiu a todas. Falou do caráter da corporação BC, da retidão do corpo de funcionários, mas como eles funcionários assistiam impotentes às trambicagens, legalmente autorizadas por sucessivas diretorias em Brasília. E também sobre a incapacidade de outros órgãos do Estado em entender, fiscalizar e punir essas jogadas.
Agora o jogo mudou, diz ele. Em grande parte devido à recuperação do salário do funcionalismo público, especialmente nesses órgãos, Ministério Público e Polícia federal, reduzindo a exposição às tentações da corrupção. Diz que o país, hoje em dia, pode sentir orgulho dessas instituições.
Lembro-me de como o mundo quase caiu quando o então presidente do BC, Gustavo Loyolla, patrocinou um novo plano de cargos e salários para o banco. O eco emburrecedor do mercado sobre gastos públicos – sem se preocupar em analisá-los de forma desagregada – foi repercutido acriticamente pela mídia e o plano acabou sendo arquivado.
Em sua proposta de reforma do Estado, o ex-Ministro Luiz Carlos Bresser Periera contemplava a valorização das carreiras típicas de Estado. Como em quase todas as boas iniciativas de seu governo, FHC não deu o menor apoio às propostas.
Apenas nos últimos anos começou a remontagem do Estado.
Outro ponto relevante é o trabalho de melhoria de gestão da PF – mencionado pelo diretor geral do órgão, Luiz Fernando Correa na entrevista à Folha.
Recentemente estive com o professor Vicente Falconi. Perguntei das suas experiências na área pública. Me disse que nada o impressionara tanto quanto a disposição da PF em se tornar um centro de excelência. Ao final de sua exposição na sede da PF, Falconi foi procurado por um diretor da entidade que colocou no seu paletó o símbolo da corporação e lhe disse emocionado: “Queremos fazer da PF uma instituição melhor do que o FBI”.
Foi esse o pepino que Gilmar e toda essa manipulação midiática encontraram pela frente: funcionários públicos que vestiram a camisa e passaram a ter orgulho de suas respectivas corporações.

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