quarta-feira, 1 de outubro de 2008

McCain não sabe como livrar-se de Sarah Palin - por Argemiro Ferreira


Ao invés de diminuir, o esforço da campanha republicana para “proteger” Sarah Palin da mídia torna-se mais rigoroso e sofisticado. A esta altura, as dúvidas já parecem a ponto de forçar a revisão da chapa. Se ficar claro que o desempenho de Palin até agora reflete as qualificações dela, escreveu ontem Bob Herbert no New York Times, McCain e seu partido têm de pensar no país e substituí-la (leia AQUI).
A oposição à permanência na chapa da governadora do Alasca passou a vir também de colunistas conservadores - como Kathleen Parker, que antes refutava as críticas à escolha de Palin mas agora, escrevendo no website da também conservadora National Review, foi contundente ao explicar que as circunstâncias mudaram, com a crise financeira e o surgimento “de um quadro mais complicado”.
“Do que vimos e ouvimos depois da companheira de chapa de John McCain, está cada vez mais claro que Palin é um problema. Tenha ela feito seus estudos de forma apressada ou não (leia AQUI sobre a rapidez dos cursos dela), o fato é que não sabe o suficiente sobre economia e política externa para deixar os americanos despreocupados com uma Presidente Palin, caso venha a ocorrer a eventualidade da promoção dela”, escreveu Parker (leia AQUI).



A saída? Só mesmo a renúncia



A colunista Parker lembrou que antes tinha ficado encantada com a escolha de Palin, elogiado seu bom senso, a graciosidade, o charme e até algumas ações no curto período em que foi prefeita e governadora. “Ela era a antítese e a nêmesis da presunção e da grosseria (…), uma feminista diferente, que personalizava a mãe trabalhadora moderna e bem sucedida”.
Foi engraçado enquanto durou, disse Parker, mas as entrevistas recentes de Palin a Charles Gibson, Sean Hannity e Katie Couric revelaram uma candidata sóbria, atraente, confiante - mas simplesmente não é do ramo, está fora de sintonia. “Ninguém odeia mais do que eu dizer essas coisas. Como tantas mulheres, eu estava torcendo por ela, queria o melhor para ela, ansiando por um desempenho brilhante”, destacou.
Parker chegou à conclusão de que “se BS fosse moeda”, Palin teria o suficiente para cobrir as perdas da Wall Street - sendo BS (bullshit) o equivalente, em português, de “bobagem”, se quisermos evitar o chulo. “Como ela é mulher - e a primeira a entrar para uma chapa presidencial republicana - ficamos relutantes em dizer o que sabemos, penosamente, ser a verdade”, assinalou.
Para Parker, McCain a esta altura não pode voltar atrás na escolha. Correria o risco de atrair a indignação fatal da base republicana - e ficaria parecendo ser incapaz de tomar decisões como presidente. Mas Palin pode salvá-lo - e renunciar, invocando razões pessoais, para dedicar mais tempo ao bebê recém-nascido. Quem criticará a mãe que põe a família em primeiro lugar? “Faça-o pelo país”, recomendou Parker a ela.



Que diabo ela anda falando?



No domingo a polêmica sobre Sarah Palin dividiu até o painel de jornalistas do programa Fox News Sunday, no qual o âncora Chris Wallace e Juan Williams divergiram dos demais. “Que diabo ela está falando (ao alegar que conhece política externa porque o Alasca é vizinho da Rússia)?” - perguntou Wallace a um senador republicano. Pouco depois, Williams encurralava Brit Hume e o neoconservador Bill Kristol.
Enquanto eles falavam na Fox, McCain na rede ABC via-se forçado a corrigir o que Palin tinha afirmado na véspera. Apesar de protegida contra a mídia, ela ouvira a pergunta de um estudante na Pensilvânia e respondera que os EUA deviam atravessar a fronteira do Afeganistão e atacar o Paquistão - o que McCain rejeita, como disse no debate com Obama e repetiu agora, jurando ser também a posição de sua vice (leia o desmentido AQUI, na CNN).
Será que tais desmentidos bastarão? Há um que a campanha de McCain ainda não sabe como fazer: o vídeo gravado em 2005 de um exorcismo de Sarah Palin. Foi na igreja pentecostal Assembléia de Deus de sua cidade. Um pastor queniano a purifica, declarando-a protegida por Jesus contra Satã e todas as formas de feitiçaria. As imagens continuam a circular, a mil por hora, no YouTube (clique na imagem abaixo para ver e ouvir; e leia mais AQUI sobre a proteção a Pali contra a feitiçaria.)
Judith Warner, autora de um best-seller recente, Perfect Madness: Motherhood in the Age of Anxiety, faz um blog no site do New York Times e analisou ali a foto (da agência AFP) na qual Palin aparece com Henry Kissinger - um encontro promovido pela campanha de McCain (veja a foto no inicio deste post). O ex-secretário de Estado tinha uma cara indulgente. Warner vê Pali na foto como uma versão Elle Woods, a heroína meio debilóide do filme Legally Blonde (veja abaixo a capa do DVD).



Um insulto e uma crueldade



No filme, o charme da caloura abre caminho para ela na escola de Direito da Universidade de Harvard. A tese, pouco convincente, é esta: apenas com a inteligência nativa qualquer moça decente supera colegas elitistas e arrogantes de Harvard. Assim, Elle Woods tornou-se, para muitas jovens, modelo a ser copiado. Para se impor, basta ser bonitinha, sabidinha - e bobinha. A escritora discorda. “O que é preciso é trabalho, estudo. Muito trabalho, muito estudo.”
Warner analisou a foto de Palin/Woods sentada no sofá azul, Kissinger ao lado. A vice de McCain - disse - implora clemência à câmera. Todos percebem algo de errado ali. No filme a heroína pode tudo porque acredita em si mesma. Mas a vida real é bem diferente da fantasia de Hollywood. “A incompetência tem suas consequências políticas e pessoais”, advertiu Warner (leia AQUI a íntegra do texto, sob o título Poor Sarah - Pobre Sarah).
A partir daí, Judith Warner tirou uma conclusão inevitável: “Francamente, passei a pensar, neste momento pos-Kissinger, pos-Katie-Couric, que a indicação de Palin (para candidata republicana à vice-presidência) não é apenas um insulto às mulheres (e aos homens) dos Estados Unidos da América. É também um ato de crueldade para com ela própria”.
(E divirta-se com o quadro de Palin e Hillary Clinton no Saturday Nigh Live. Basta clicar na imagem abaixo)

Comentário: só mesmo num país como os EUA um ser humano tão desprezível, dissimulado e afrontoso a história de toda a humanidade como Henry Kissinger, consegue não viver tão incólume, sendo um “exemplo”, e ainda um puxador de votos.
Que país.

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