quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O Brasil e o pós-crise - por Luis Nassif

A grande incógnita que se tem, a partir da dimensão da crise internacional, é sobre o que acontecerá com a economia brasileira daqui para frente.
No ano passado lancei o livro “Os Cabeças de Planilha”, mostrando a impressionante semelhança entre o primeiro ciclo de financeirização da economia mundial – que começa nas três últimas décadas do século 19 e vai até a Primeira Guerra, ganhando uma sobrevida até 1929 – e o momento atual. E arriscava a avançar nos desdobramentos da crise de 29 no Brasil, projetando-o para o momento atual.
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No século 19, o sistema financeiro internacional se articulou, passou a criar novos instrumentos financeiros, em função das novas revoluções tecnológicas (financiadas através do mercado de capitais) e do mercado de dívidas dos países emergentes (não havia essa designação na época). No final do século 20, repete-se o mesmo processo.
Esse modelo de captação de recursos junta capital legal, dinheiro do crime, dinheiro de corrupção político, tudo devidamente “lavado” – no século passado em Londres; agora, nos paraísos fiscais.
Para ser bem sucedido, havia a necessidade do enfraquecimento dos estados nacionais, da subordinação da sua política aos interesses dos capitais, liberdade de fluxo, controle dos sistemas de regulação dos serviços públicos – no século 19, através das concessões; no final do século 20, das privatizações.
No campo cambial, a falta de controles provocava ondas sucessivas de valorizações e desvalorizações da moeda impedindo a consolidação de um parque manufatureiro robusto.
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Esse modelo se esgota por si. O excesso de liquidez provoca diversas bolhas especulativas, há um descolamento dos ativos financeiros em relação aos ativos reais, até que o modelo se torna completamente disfuncional. No século passado, resultou no crack de 29; nos tempos atuais, na grande noite de 15 de setembro.
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O que interessa é o pós-crise. Há um enorme refluxo do comércio internacional, um trancamento das fontes de crédito e a volta do protecionismo comercial exacerbado. As nações voltam-se para si próprias, para políticas de substituição de importações e redução da dependência dos capitais voláteis.
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Sem a mobilidade anterior, os capitais tiveram que buscar oportunidades na economia real. Parte deles ajudou a capitalizar novas empresas que surgiam; parte foi carreada para os bancos comerciais e ajudou a financiar a produção.
Uma política externa pragmática abriu espaços para parcerias profícuas com a Alemanha e a Itália – na modalidade de “escambo”, troca de mercadorias. No momento seguinte, acordou os Estados Unidos.
O Brasil moderno começou a ser parido ali.
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Hoje em dia, tem-se uma indústria de fundos sofisticada, muita poupança interna acumulada – grande parte ainda alocada em títulos públicos. Com a crise internacional, em breve haverá movimentos de controle desses fluxos.
Para onde irão? Para a economia real, em um momento de mercado de capitais maduro e de perspectivas de grandes investimentos pela frente.

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