quinta-feira, 24 de julho de 2008

Um balanço da Satiagraha - por Sonia Montenegro

Dia 8, tivemos uma notícia que parecia impossível: a prisão do banqueiro Daniel Dantas e seus aliados.

Parecia impossível, porque não é de hoje que se sabe de graves denúncias contra ele, sem que absolutamente nada acontecesse. DD está envolvido nos maiores casos de corrupção do sistema financeiro do país: o Banestado e a privataria, e é acusado de aliciar políticos, imprensa, jornalistas e até membros do poder judiciário, que facilitam a sua longa impunidade.

Daniel Dantas nasceu na Bahia, filho de um amigo de ACM que o tornou consultor do PFL, hoje DEM. Inteligência brilhante, por indicação de ACM, quase foi Ministro da Fazenda de Collor. Posteriormente, no governo FHC, ficou milionário ao participar, com o apoio do PSDB, da formação de consórcios para a privatização do Sistema Telebrás, do qual saiu sócio da Brasil Telecom, período no qual cometeu a grossa maioria dos crimes dos quais é acusado.

Com a mudança de governo e uma Polícia Federal independente, o exemplar delegado Paulo Lacerda resolveu investigar o DD, que resultou na Operação Chacal em 2004 e a apreensão de arquivos magnéticos (HD-hard disk) do seu banco, o Opportunity, mas o acesso às informações foi impedido pela Ministra do STF Ellen Gracie (nomeada por FHC).

Posteriormente, na CPMI dos Correios, DD foi intimado a depor graças ao empenho da ala governista, por ter injetado dinheiro nas contas de Marcos Valério que alimentaram o mensalão tucano para as campanhas de Eduardo Azeredo ao governo de MG, que afirmou que também foi usado para a campanha de FHC à reeleição. A oposição, com a ajuda da “grande” imprensa, não estava interessada em investigar a origem do mensalão, por motivos óbvios. Desde sempre demonstra que seu objetivo não é o bem do país e seus cidadãos, mas voltar ao poder a qualquer custo.

No dia seguinte a imprensa, como de costume, minimizou o depoimento de DD, para dar completo destaque ao mensalão petista, sendo mais um indício do que afirmei acima.

Posteriormente, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPMI, ignorou por completo qualquer menção ao DD. Felizmente, as senadoras do PT, Ideli Salvatti (SC) e Ana Julia Carepa (PA) conseguiram através de voto em separado, incluir o nome do eminente banqueiro, e todo o material foi enviado para o Procurador Geral da República, Antonio Fernando de Souza, que substituiu o chamado “engavetador” Geral da República, Geraldo Brindeiro, do governo anterior.

Os delegados Protógenes Queiroz e Victor Hugo e o procurador Rodrigo de Grandis prosseguiram a investigação, mesmo contra a vontade de uma parte da PF e conseguiram, através dos registros no HD do Opportunity e das escutas telefônicas, indícios suficientes dos ilícitos praticados pelo banqueiro e seu grupo, apresentando-os ao juiz Fausto De Sanctis, que decretou a prisão provisória dos meliantes.

No decorrer das investigações, foram identificados os nomes de 89 cotistas brasileiros do fundo do banco de DD, mantido nas Ilhas Cayman, operações não informadas aos órgãos competentes, caracterizando evasão fiscal, estimadas em 2 bilhões de dólares.

No momento, a nossa grande imprensa tenta ligar o DD ao governo e ao PT, para livrar a cara do PFL/DEM e do PSDB. Não vou aqui querer inocentar petistas que por ventura tenham caído nas malhas aliciadoras de DD, dentre os quais o Luis Eduardo Greenhalgh, que lastimo MUITO, pelo seu passado em defesa de presos-políticos, contra massacres etc e muito, mas pelo menos até agora, o que se sabe é que ele aceitou ser advogado do DD, o que não me parece ser um crime, embora reconheça, foi um deslize lamentável.

O que não dá para entender, ou melhor, dá para entender até demais, é a insistência da imprensa em relacionar os crimes do DD ao governo Lula e ao PT (já que a essa altura do campeonato ficou impossível inocentá-lo). Senão vejamos:

1- O berço deste “ilustre” banqueiro foi construído pelos políticos do PFL/DEM.

2- No governo FHC, DD era recebido no Planalto, como consultor, nas muitas crises pelas quais passou.

3- DD está envolvido no caso Banestado, que aconteceu no início do 1º mandato de FHC.

4- DD está envolvido com o Marcos Valério, no caso do mensalão tucano. Se este envolvimento continuou com o Delúbio, como a imprensa quer fazer crer, ainda está por se provar, porque não vi nenhum jornalista sério fazer tal afirmação.

5- DD está envolvido até o pescoço na privatização da Telemar, de onde saiu como sócio minoritário da Brasil Telecom, mas apesar disso, como gestor.

6- Em 2002, DD foi recebido por FHC em um jantar no Palácio do Planalto, e no dia seguinte, a mando de FHC, foi trocado o comando dos fundos de pensão das estatais, para atender aos interesses de DD. Vale dizer que até o governo Lula, os donos dos fundos de pensão, ou seja, os empregados das estatais, não tinham direito a voto na escolha de seus gestores. Estes eram escolhidos pelo presidente da República.

7- A Operação Chacal, 1ª tentativa de investigar DD, se deu em 2004, na gestão do Presidente Lula.

8- Ellen Gracie, Ministra do STF que por 2 vezes impediu a abertura do HD do Opportunity, foi indicada por FHC.

9- Quem possibilitou que a investigação fosse adiante foram as senadoras petistas Ideli Salvati e Ana Julia Carepa.

10- Foi decisão do Procurador Geral da República Antonio Fernando de Souza, indicado por Lula, a decisão de prosseguir as investigações.

11- O Presidente Lula deu carta-branca à Polícia Federal para investigar.

12 – Foram os presidentes dos Fundos de Pensão no governo Lula que conseguiram defenestrar o DD do controle da Brasil Telecom, que fizeram um longo documento apontando todas as falcatruas perpetradas pelo ilustre banqueiro na gestão da empresa, e que deu subsídios às senadoras petistas para o denunciar. (eu tenho o documento, um arquivo pdf, e o envio para quem desejar).

13- DD tentou se aproximar do PT, mas foi barrado por Luis Gushiken, que sempre esteve do lado dos empregados dos Fundos de Pensão. Talvez por isso a imprensa seja tão preocupada em desqualificá-lo.

14- DD tentou se aproximar do filho do Lula, sócio da Gamecorp, uma empresa de joguinhos eletrônicos, e foi barrado pelo Lula.

15- 5 meses antes da eleição de 2006, DD forneceu a Veja documentos, posteriormente comprovados como falsos, a respeito de contas do Lula e outros membros deste governo, de contas no exterior, e foi denunciado pelo crime de calúnia após as investigações.

16- A PF incrimina a revista Veja e o pústula do Diogo Mainardi, como membros da imprensa aliciados por DD, ambos radicais anti-Lulistas.

17- A tropa de choque de DD no Congresso foi sempre de parlamentares do PFL/DEM e do PSDB, dentre os quais destacaria a família ACM, Bornhausen, Heráclito Fortes, Arthur Virgílio etc.

18- Os jornalistas da tropa de choque do DD são os que fazem clara oposição ao governo Lula, dentre os quais a Miriam Leitão, que não entendeu as razões pelas quais o DD foi preso, cujo único crime foi se “envolver em confusões”.

19- Quem concedeu 2 habeas corpus ao banqueiro DD em tempo recorde e violando as leis processuais para o caso foi o presidente do STF, Gilmar Mendes, indicado por FHC.

20- A fusão da BrT + Oi, denunciada por Mino Carta (jornalista sério) e Paulo Henrique Amorim (nem tanto), me deixou bastante abalada, até a prisão de DD, principalmente por ele se livrar das acusações dos Fundos de Pensão e do Citygroup, nos EUA, por sinal gravíssimas e que não foram feitas por petistas. Essa teria sido a sua imposição para vender a sua participação na BrT.

Hoje já reconsidero o meu julgamento, porque além de ser uma forma de se livrar do DD, o governo já tinha conhecimento de que a PF estava fazendo uma investigação séria sobre o DD, que para o Brasil vale muito mais do que qualquer ação no exterior. De que adianta o governo norte-americano multar ou sentenciar o DD? Não seria melhor que ele fosse multado e sentenciado aqui? Diante deste fato, o perdão do Citygroup não teve a mínima importância. Por outro lado, negociar com o governo pode ter dado a ele a ilusão de que estaria livre de qualquer investigação, dando mais tempo à PF.

Que eu saiba, o negócio está acertado, mas não está concretizado, portanto DD ainda não deve ter metido a mão no dinheiro, que poderia ser depositada em juízo, para responder pelo que a justiça determinar como obrigação do mesmo a ressarcir o governo ou a quem quer que seja. Pode não ter sido mera coincidência essa operação exatamente agora... (a bem da verdade, essas deduções são minhas)

Poderia ainda me alongar nos argumentos, mas acho que esses são suficientes para que você possa fazer o seu juízo de valor.

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