terça-feira, 3 de junho de 2008

Desejo de matar - por Cartacapital

Em 23 de maio, em conversa com editores do jornal Argus Leader, do estado de Dakota do Sul, Hillary Clinton explicou por que não vê razão para desistir, apesar de Barack Obama já ter a maioria absoluta dos delegados comprometidos (1.660 de um total de 3.253, ante 1.499 dela) e estar perto da maioria absoluta da convenção, superdelegados incluídos (1.979 em 4.049, ante 1.781 da rival).

“Meu marido não garantiu a nomeação em 1992 até vencer a primária da Califórnia em algum dia do meio de junho, certo? Todos nós lembramos que Bob Kennedy foi assassinado em junho, na Califórnia. Eu não entendo.”

Os ouvintes entenderam – e devem ter ficado chocados, por mais cínicos que fossem. Em 5 de junho de 1968, Robert Kennedy venceu as primárias da Califórnia e fortaleceu-se como candidato para a convenção democrata, mas à noite foi baleado e morreu no dia seguinte, o que garantiu a indicação de Hubert Humphrey, vice de Johnson (que perdeu para Nixon).

Como certos personagens de Woody Allen, Hillary veste o inconsciente por cima do tailleur. Agora se tem o direito de imaginá-la exercitando o pensamento positivo (no qual parece ser muito versada) a visualizar o concorrente coberto com um lençol sobre a calçada – ou, quem sabe, linchado e pendurado em alguma árvore –, enquanto ela profere, emocionada, o discurso de aceitação da candidatura democrata.

Seria ingenuidade pensar que alguém pode chegar a candidato presidencial nos EUA sem ser, potencialmente, uma máquina de matar. Mas talvez não seja pedir demais aspirar a que não seja uma máquina descontrolada. Essa disposição de destruir quem quer que se ponha no seu caminho é de assustar os mais pessimistas em relação ao sistema político estadunidense.

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