quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Vale do Rio Doce

Por única e exclusiva falta de tempo deixei de postar aqui um comentário sobre o referendo da Vale. Nenhum veículo da grande mídia cobriu adequadamente o referendo. E não por falta de tempo, tenho certeza.

Bem, voltemos à era FHC, este período tão sombrio de nosso país. Em maio de 95, a Vale informou à Securities and Exchange Comission (SEC), uma espécie de entidade fiscalizadora do mercado acionário estadunidense, que as reservas que possuía de minério de ferro contabilizavam no sistema sul (Minas Gerais, basicamente) 7,918 bilhões de toneladas. No edital da maldita privatização, constavam 1,4 bilhões de toneladas. As 6,518 bilhões de toneladas que desapareceram, devem estar enterradas no quintal de FHC. Pra não dizer que estão enterradas em determinado orifício deste senhor.
No sistema norte (as minas de Carajás, localizadas no Pará) informaram à SEC que as reservas eram 4,97 bilhões de toneladas. No edital de privatização, informaram 1,4 bilhões de toneladas. FHC colocou as 3, 57 bilhões de toneladas em algum outro lugar. Talvez dentro de Miriam Dutra.
O banco (instituição divina) Bradesco foi quem montou o edital de venda da companhia, para, depois, convenientemente, tornar-se um dos seus controladores, o que é proibido por lei. Mas a lei, no Brasil, só é para alguns, como sabemos. Para os que têm a “faca no pescoço”. E não haverá “faca no pescoço” do Bradesco, né, grande mídia?
O Bradesco, juntamente com a corretora Merril Lynch deram um preço para a Vale (que foi vendida pelo preço mínimo). Pois bem, eles mesmos, depois, compraram partes da Vale (o presidente da Vale, Roger Agnelli, foi dirigente do Bradesco por mais de vinte anos). Mas como pode isto num país civilizado, STF? Onde estava você, Nélson Jobim? Estava tomando banho de piscina com FHC? Onde estava você, Marco Aurélio Mello? Estava soltando algum corrupto?
Ora, o que estas empresas fizeram foi mais ou menos o seguinte: eu quero comprar um carro que vale 100 mil. Mas eu sou o corretor do carro e eu avalio o quanto ele vale. Daí, afirmo que ele vale apenas 3 mil. Algum babaca acredita nisto e vende a 3 mil. Eu, o espertão, vou e compro o carro, claro!
Isto tudo a olhos vistos... mas onde estava o “senhor combate a corrupção”, o “senhor contra a impunidade”, Marco Aurélio Mello? Onde estava?

E há outras terríveis irregularidades nesta que foi a jóia máxima da privataria. De acordo com a constituição (que só foi respeitada quando o convinha por certo governo) as reservas de urânio são de propriedade exclusiva da união, logo, não poderiam ter sido vendidas. A exploração mineral na faixa da fronteira não pode ser realizada sem aprovação expressa do congresso nacional, o que também não ocorreu.
A Vale tem terras somadas que atingem o estupendo valor de 26 milhões de hectares (a soma das áreas dos estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte e Paraíba). De acordo com o Código Penal Militar é proibido a não-brasileiros possuir mais de 2000 hectares sem aprovação do senado e das forças armadas, o que obviamente não aconteceu. Mas, para o capital internacional, que comprou a Vale a preço de banana, a lei brasileira só Vale para “garantir o direito a propriedade privada”. Só para isto. Onde estavam os patriotas brasileiros, vendo este atentado contra a nossa soberania? Os estrangeiros, que detém 65% das ações preferenciais (que possuem preferência na distribuição de lucros) comandando uma área tão grande de nosso país e tudo fica por isto, mesmo???? Afora o fato de estarem, efetivamente, sugando nossas riquezas não-renováveis para encherem seus bolsos.
É tudo uma lástima. Os processos estão correndo, mas dificilmente darão em alguma coisa, até porque, a “faca no pescoço” que a mídia pode colocar, será para ir (como sempre) contra o povo. Farão pressão, caso necessário, para que os juízes aceitem esta afronta contra nossa constituição e nosso país.
Acredito que a mídia nem precisará por a “faca no pescoço”. Farão o contrário, como tantas vezes fizeram no governo do príncipe dos çábios: um silêncio ensurdecedor, para que tudo passe rápido e ninguém perceba.
Alguns perceberam para azar deles. Não todos que deviam para azar nosso.

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